domingo, 14 de setembro de 2014

Pequena reflexão para um domingo. (Amós 6,6)





"Vocês bebem vinho em grandes taças e se ungem com os mais finos óleos, mas não se entristecem com a ruína de José". Amós 6:6

Recentemente estava lendo o livro de Amós e o versículo acima me chamou bastante atenção. Curiosamente o texto bíblico é em grande parte um texto para a coletividade. Raramente vemos instruções de cunho mais pessoal sendo dadas principalmente no Antigo Testamento. Obviamente que há instruções pessoais, Deus falando com Gideão, Moisés, Samuel, etc, mas até mesmo nesses exemplos a questão da coletividade é que "inspira" a voz de Deus.

Deus fala com Gideão sobre o livramento do povo, o mesmo com Moisés e Samuel. Parece haver sempre um apelo ao comunitário no texto bíblico. Se no Antigo Testamento esse apelo tem em vista apenas o povo de Israel, com o Novo Testamento esse apelo alcança todo o mundo nas cartas de Paulo e João. O princípio da coletividade se mostra como um grande norteador da proposta bíblica.

O versículo de Amós também nos mostra essa mesma dimensão coletiva que várias vezes é tão aclamada pelos cristão, mas muito pouco praticada. Obviamente que é muito mais fácil chorar com os que choram do que se alegrar com os que se alegram, no entanto se mostra muito mais complicado chorar com o outro enquanto tenho motivos e planos para me alegrar. Esse abrir mão da minha alegria em prol da tristeza do outro parece ser o movimento mais complicado de ser feito e é exatamente a isso que o texto de Amós parece se referir.

Não há uma condenação da alegria no texto de Amós, mas há uma advertência de que não se entristecer com a ruína de José é algo que não está certo. Se José está em ruínas, o vinho e os óleos finos se tornam secundários.
O que o texto de Amós nos convida a fazer é estarmos dispostos a descentrarmos de nós mesmos em prol do sofrimento do outro. Para o profeta parece fazer muito pouco sentido essa "alegria" dos vinhos e óleos finos enquanto uma parte do povo sofre. Isso às vezes acontece muito próximo a nós que não nos damos conta dessa espécie de compromisso exigido pelo profeta.

Estar disposto a abrir mão da minha alegria porque o outro está sofrendo parece ser o movimento proposto pelo profeta e que novamente tem a coletividade como alvo em detrimento do caráter  individual. Tal proposta de Amós vai de encontro à nossa contemporaneidade tão centrada no individualismo e no "cada um por si". Ser capaz de chorar com o que chora mesmo quando se tem tudo para estar bem demonstra talvez um entendimento mais maduro da proposta bíblica e ao mesmo tempo nos faz perceber que a tônica dos profetas do Antigo Testamento está em uma interessante consonância com a proposta de amor trazida por Jesus no Novo Testamento.


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