sábado, 15 de março de 2014

Reflexões sobre Salmos 116:11 - Generalização e Esperança





"E na minha perturbação disse: Todos os homens são mentirosos" (Sl 116:11)

Estava meditando no Salmo 115 e 116 hoje pela manhã e dentre tantos versículos belíssimos, este acima me chamou muita atenção. O salmista em seu momento de aflição expõe um julgamento sobre o mundo, uma generalização que me fez lembrar muito de como nós mesmos fazemos diante dos momentos de aflição.

Acabamos generalizando nossos momentos como forma de lidarmos com a situação. Nossos olhos ficam condicionados pelo momento que estamos passando. Vemos tudo por meio dessas lentes provisórias e criamos para nós a ilusão de que se dermos uma resposta "definitiva" para todos os nossos problemas os colocando em uma espécie de "grande balde" tudo se resolverá.

Generalizamos pois isso nos serve como uma grande defesa. Afinal, se todos são dessa forma, o que sofro faz parte da natureza. Seria assim de uma forma ou de outra. Não raras vezes caímos em um grande sentimento de autodepreciação, em um processo de nos colocarmos como incapazes de mudar, ou com pensamentos do tipo: "Os outros nunca me verão de forma diferente, pois sempre foi assim". Estas generalizações da mesma forma que funcionam como formas de defesa, acabam funcionando como grandes armas para nos afligir. Uma defesa que tem em uma espécie de masoquismo a sua grande arma.

O salmista nos mostra que nos momentos de aflição temos tendencia a estas generalizações. Quantas pessoas diferentes já ouvi fazendo vários destes discursos em momentos de aflição. Olham para o passado, e como as coisas nem sempre caminharam da melhor maneira possível, mas terminaram de forma como não queriam, acabam projetando que no futuro as coisas acontecerão da mesma forma. Se esquecem que a cada novo dia novas oportunidades aparecem, novos horizontes se abrem. Se esquecem que a generalização acaba sendo uma grande perda de tempo na busca de encontrar um sentido para a situação, embora seja a primeira que aparece no cenário.

O sentido de determinada situação deve sempre ser buscado, mas a generalização não parece ser o melhor caminho para se obter isso, pois apenas exacerba o nosso atual momento de forma a não nos possibilitar sair dele, mas apenas se afundar em um grande processo de generalizações.

A generalização, na lógica, se constitui uma grande falácia. Pois ao generalizar acabamos chegando a conclusões que não me são permitidas a partir das premissas ou dados que possuo. A generalização se torna uma grande tentação na busca da resolução de um problema ou, no caso da lógica, na resolução de um silogismo. Geralmente é um péssimo passo argumentativo pois os dados não me permitem afirmar o que a generalização pretende.

No entanto, temos a tendência a generalizar as coisas. Ela torna tudo mais fácil. Ao invés de nos abrir para o novo ela nos encerra em uma espécie de repetição ad infinitum do mesmo. O salmista no momento de aflição também sucumbe a tentação e generaliza o mundo ao seu redor, afinal, se todos os homens são mentirosos, a sua situação encontra uma resposta. A situação se encerra e me permite me isentar da minha responsabilidade diante dela. A generalização me leva não raras vezes ao comodismo. E esta talvez seja a ruína que vem com a promessa de uma suposta resposta definitiva para o momento.

Que o nosso desafio seja o não generalizar nossas situações, que seja o de se abrir para os possíveis horizontes que nos apresentam e que as generalizações insistem em negar. Que ao invés das generalizações que nos encerram diante do mesmo, possamos nos abrir para a esperança do provisório e encarar os fatos que nos assolam no momento como possibilidade de um outro algo que as generalizações não são capazes de prever.

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