sexta-feira, 1 de março de 2013

Salmo 88 - Esboço comum que pode ser visto em qualquer pregação evangélica






Gosto muito do Salmo 88 por mostrar uma face do salmista muito pouco explorada.


Salmo 88 (http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/88)

Os Salmos sempre são vistos por todos como um livro alegre, festeiro, usado em diversas celebrações tanto nos cultos como durante as inúmeras pregações. Sempre ouvimos eles sendo recitados durante o período de louvor, lido no início do culto para incitar os outros a cantar, celebrar e etc. No entanto, quando olhamos o Salmo 88 parece que mudamos de livro e não mais lemos os tão queridos salmos que nos incitam a celebrar. Muito pelo contrário, vemos um salmista deprimido, abatido, sem forças. Nenhuma de suas orações parecem ser respondidas. Um salmista cansado, sem esperança. A visão que temos é de um homem que não mais acredita que algo bom virá, resta-lhe apenas esperar a morte, no entanto ele ainda clama a Deus por socorro, mas parece não haver resposta, por isso anda aflito, desorientado, sem um norte para onde fixar o olhar. E tragicamente, o salmo termina sem uma resposta. Fica o lamento, um salmista em depressão, sem ter para onde olhar, que pode apenas confiar que em algum momento o Deus em que ele crê virá para o resgatar, mas isso não acontece. 

O salmista evidencia diversos sinais de depressão, e nem por isso ele se torna um pecador, alguém que deva ser "expulso da congregação" dos justos. A depressão não é algo maligno, vindo do diabo ou qualquer outra coisa. A idéia de que o cristão não deve ficar deprimido não faz sentido, e a meu ver serve apenas para colocar um jugo sobre uma alma já muito atribulada.  A depressão é algo humano da qual todos podem ser acometidos em algum momento da vida por motivos diversos. Alguns terão mais facilidades para desenvolvê-la, outros menos, mas não acredito que a depressão seja algo apenas patológico, mas que envolva outros fatores externos. Não falo de nenhuma metafísica, ou mal espiritual, não. Por fatores externos digo algum acontecimento que nos abalou, algo que nos fez perder as esperanças, etc. 

O que acho interessante em ver este salmo encrustado no meio do livro de celebração é que ele nos mostra que os momentos ruins também acontecem durante a vida, e eles fazem parte dela. Mesmo que na hora não tenhamos uma resposta, isso não deve tirar nossas esperanças. O salmista não oferece uma resposta para a sua angústia. Deus não o responde. A depressão que ele sofre continua lá. Este é o único salmo atribuído a Hemã, um dos filhos de Coré. Provavelmente Hemã era um levita responsável pelas atividades do templo, ou seja, provavelmente era um líder de seu tempo que não sabia para onde caminhar, que sofria, que andava deprimido sem ter a quem recorrer uma vez que como ele diz no final "para longe de mim afastaste amigo e companheiro: meus conhecidos são trevas". (v.18)

Então o que fazer? Hemã não nos responde, ele apenas diz que continua a clamar por auxílio enquanto vive. Ele crê ! Mesmo acreditando que o mal que ele sofre venha de Deus, ele ainda crê que este mesmo Deus virará para ele Seus olhos e virá em seu auxílio. Talvez como Jó que crê, Hemã também creia. 

Hoje em dia já há vários tratamentos para a depressão, diversos remédios, terapias, etc. Mas até hoje a atitude positiva de Hemã ainda é um excelente remédio para a luta contra a depressão. Crer que o melhor estar por vir, crer que esta situação não é definitiva, crer que algo ou alguém virá em meu socorro e me ajudará, crer que talvez haja algo que eu possa fazer para não sucumbir às trevas que me rodeiam. Diversos estudos científicos já mostram que atitudes positivas diante de tempos difíceis ajudam na recuperação, e talvez isso fosse algo que Hemã já soubesse há algum tempo atrás. Não que isso o fizesse parar de sofrer, mas com certeza isso o ajudava a continuar seguindo.

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