terça-feira, 23 de outubro de 2012

Pensando sobre o céu estrelado



 

Kant já nos dizia que duas coisas o maravilhavam tremendamente. A lei moral dentro dele e o céu estrelado sobre ele. Hoje ao sair de casa tive o mesmo sentimento de maravilhar-se. Não com a lei moral, mas com o céu estrelado sobre mim. Na época de Kant não se sabia o que se sabe hoje sobre as estrelas, e acredito que se soubesse, Kant se maravilharia mais ainda com o céu estrelado sobre ele.

Nosso conhecimento hoje sobre as estrelas, sobre os planetas, enfim, sobre a cosmologia é bem vasto, e mesmo sendo tão vasto não conhecemos nem um décimo de tudo o que está acima de nós. Para termos noção disso que falo basta olharmos o Google Earth na opção Space e veremos que temos alguns pequenos traços demarcados que são onde se encontram as galáxias conhecidas, alguns planetas, etc. Pequenos traços de uma mapa extremamente incompleto que nos faz ver ao mesmo tempo a grandeza do espaço e nossa pequenez diante dele.

Dado ao conhecimento que temos hoje sobre as estrelas, sabemos que sempre quando olhamos para uma estrela no céu estamos olhando para o nosso passado, afinal, a estrela que se mostra pode já ter se transformado em uma grande supernova e não mais existir, mas apenas agora sua luz chega até nós. Anos-luz de distância nos separam da estrela que se mostra para nós agora. Olhamos o que de fato pode nem mesmo existir mais. Achamos lindo o inexistente, aquele algo que pode ou não pode estar lá ainda. Olhar para o céu estrelado sobre nós nos faz colocar em dúvida toda a nossa certeza na empiricidade. Neste momento concordamos com Descartes que nos falava que os sentidos nos enganam. O céu estrelado sobre mim me engana, e neste enganar me maravilha tremendamente. Com Kant diríamos que entre o númeno e o fenômeno está o maravilhar diante deste desconhecido, afinal, o que a estrela de fato é agora, no momento que a contemplo no céu, isso eu nunca poderei saber, mas até mesmo o fenômeno que se mostra a mim (que segundo Kant seria construído a partir da razão que em mim habita) remete a este engano fundamental, esta distancia enorme entre fato e aparência que não cessa de me maravilhar.

Uma teoria cosmológica ainda bem aceita no meio científico é a teoria do Big Bang que diz que todo o nosso universo surgiu de uma explosão inicial onde tudo estava comprimido em um ponto do espaço. Desta explosão viriam todas as coisas existentes no universo. Seríamos, portanto, poeira estrelar, fruto de uma explosão sem sentido que poderia não ter acontecido, mas que de alguma forma aconteceu e por isso estaríamos aqui. Seríamos determinados por este passado longínquo, do qual não temos controle, mas apenas sofremos seus efeitos em nossa constituição. E como não lembrar de Freud e sua teoria psicanalítica que nos remete a uma mesma determinação a partir do nosso passado longínquo do qual não temos domínio e apenas sofremos os efeitos dele tentando desesperadamente lidar com isso durante toda a nossa vida?

O céu estrelado sobre mim me fez pensar todas estas coisas enquanto caminhava para o trabalho, e isso me fez maravilhar assim como o fez ao filósofo de Königsberg.

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