sábado, 23 de outubro de 2010

A um irmão querido





É, lá se vão 18 anos.

Lembro do seu primeiro dia, lembro de ter te visto envolto naqueles lençóis, chegando em uma casa pela primeira vez.

Tudo novo, olhos fechados, e como tudo na vida, aqueles olhos se abriram rapidamente, e começou a contemplar o mundo.

Mundo novo para uma pessoa nova.

E os tempo passou...

E as brincadeiras foram muitas, os choros foram muitos, as preocupações foram muitas, mas em todos esses momentos bons e ruins podíamos perceber algo de bom florescendo, algo divino acontecendo, um caráter se formando, uma visão de mundo sendo adquirida.

E nisto, nos sentíamos orgulhosos, nisto os nossos corações se alegravam.

Foi bom te ver crescer, poder estar contigo neste tempo todo, poder te ajudar a se tornar uma pessoa amável, querida por muitos, líder de vários.

Que nesta nova fase que se inicia em sua vida, você possa lembrar do que foi ensinado, que seu coração possa guardar os conselhos dados.

"Sobre tudo o que deve guardar, guarde seu coração", já dizia o provérbio bíblico.

Espero que mesmo se o nada algum dia vier sobre você e a angústia tentar te dominar, você se lembre que existem pessoas que te amam e sempre torcerão para o seu bem.

Fico muito feliz e grato a Deus que permitiu que você viesse ao mundo, crescesse, aprendesse boas coisas e fosse acima de tudo meu irmão.

Talvez estas pequenas palavras que me trazem tão boas memórias e faz meus olhos encherem de lágimas não consiga expressar no momento o que quero, mas sei que compreenderás a intenção do gesto simples.

É bom te ter por perto, é bom te ter como irmão. Te amo meu irmão querido!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Profissionalismo nas baias







No início apenas uma baia, nada além dela,
Falta de humanidade como qualquer outro objeto.
Nela nada havia que nos impressionasse ou nos causasse espanto
Era simplesmente uma baia.

Os materiais se espalham nela,
Tesoura, furador, corretivo, grampeador, nada de diferente do que vemos em todas as baias
Há também vários papéis presos em suas divisas
Reflexo apenas da falta de organização que assombra o lugar onde a baia se encontra.

A falta de humanidade na baia também reflete apenas a falta de humanidade do lugar
Símios fariam o trabalho do habitante da baia. Símios talvez até fariam melhor tal serviço
Pelo menos sobre eles não recairia a tristeza pela falta de humanidade.

Já pensei outra vez em robôs...
Sobre eles também não recairia tal necessidade de se mostrarem humanos
Afinal, eles seriam robôs

Engraçado que sempre nos "vangloriamos" por sermos humanos
Sermos dotados de razão, sentimentos, podermos nos importar com os outros e outras coisas
mas pra que isso se não nos importamos?

Sempre me intrigou muito a divisão que fazemos entre "ambiente de trabalho" e "outros ambientes". Acho que esta divisão apenas reflete o diagnóstico de Marx ao enfatizar o caráter alienador do trabalho na sociedade capitalista.

No trabalho somos pessoas diferentes, lá não cabe contatos humanos profundos, lá não é lugar de exercer preocupação com os outros, lá não é lugar de brincadeira, lá não é lugar de risos, ( a não ser pequenos momentos e mesmo assim, contidos) lá nos transformamos em robôs, símios, ou qualquer coisa que não humanos.

Abrimos mão da humanidade sem perceber. E o pior é chamarmos essa falta de humanidade de "profissionalismo". Seremos "bons profissionais" se deixarmos de ser humanos. Troca injusta na minha opinião, mas almejada pela maioria das pessoas. Elas querem ser bons profissionais.

Claro que elas querem ser boas pessoas também, mas isso só é válido para fora do ambiente de trabalho. O lugar de serem bons humanos é longe do trabalho. Lá é lugar de serem profissionais.

Claro que tal antagonismo não é sempre visto de forma tão oposta. Conheço pessoas que são bons humanos, e bons profissionais no mesmo ambiente. Estas estão cada vez mais raras.

Profissionalismo que nos transforma em seres não-humanos? Triste alienação vivida por nós todos os dias.

Baia. Mera baia. Tão não-humana como vários de nós, que em nome do excesso de profissionalismo negamos nossa humanidade.

Onde estou enquanto falo isso? Na baia tentando ser humano.