sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Leituras... Simone Weil...





Aprendi recentemente sobre o conceito de "leitura" em Simone Weil, uma filósofa do século XX com uma filosofia tanto teórica quanto prática de extrema consistência.

Achei interessante como ela aborda tal conceito afirmando que tudo na vida se dá através de "leituras" que fazemos. Nos lemos, lemos o outro, e é nessa leitura que lidamos com as pessoas no dia-a-dia.

Uma virtude de nossa parte seria aprender a "ler" o outro não apenas como lemos a nós mesmos, mas como o outro gostaria de ser lido. Afinal, penso que todos nós queremos ser lidos pelos outros.

Primeiramente penso que já é uma dificuldade enorme "ler" o outro. Afinal de contas, várias vezes o que fazemos é nos ler no outro. O outro em si não importa muita coisa na maioria das vezes, mas apenas na medida em que posso me ler nele. Ficamos sempre como quem se projeta no outro e passa a se amar nele. Nos tornamos narcisos nos contemplando frente a água sem conseguir ver toda a beleza do rio, mas apenas nossa imagem refletida ali. Acabamos morrendo afogados em nossa própria imagem.

Consiste em ato virtuoso, o aprender a ler o outro como ele é. Claro que podemos achar semelhanças entre nós, mas o que dará real beleza na figura do outro é naquilo que ele se difere de nós. Consiste em virtude, ver toda a beleza do rio para além de nossa ínfima imagem refletida no outro. Ver a parte branca do cubo de gelo, a parte não transparente onde reside a especificidade de cada um.

Aceitar as folhas amarelas no meio das vermelhas, percebendo suas diferenças, mas lendo nessas diferenças uma beleza.

Tenho aprendido a ler alguns próximos como eles são.

"Ame o próximo como a ti mesmo, mas não o leia como a ti mesmo."

Beleza da diversidade.

Em segundo lugar penso que devemos "permitir" que os outros no leiam como eles querem nos ler, e não como queremos ser lidos por eles.
Essa é uma parte difícil. Geralmente queremos ser vistos como os melhores, os mais amigos, os mais simpáticos, os mais inteligentes etc... E não permitimos que os outros façam leituras de nós que desminta essa imagem que criamos para nós mesmos.

Qualquer um que discorde da leitura que fazemos de nós mesmos é logo visto como inimigos, e por isso devem ser "eliminados". Aspecto da intolerância reinante hoje em dia.

Talvez seja um aspecto de tolerância permitir uma leitura livre.

Recentemente tive uma experiência desse tipo. Agradeci demais a pessoa que me falou a forma como ela me lia. Vi que sua leitura estava muito mais próxima da realidade do que a leitura que eu estava fazendo de mim mesmo. Foi um momento de crescimento para mim, e para nossa amizade. A partir de então tenho constatado que várias vezes minha leitura sobre mim está errada, precisa ser vista pela "lente" de outra pessoa.

Achei interessante o conceito de "leitura" de Simone Weil. Me fez pensar muitas coisas...

2 comentários:

  1. Olha meu caro, na educação chamamos isso de desconstrução, você faz a leitura do outro agregando valores e experiências pessoais. Uma leitura do outro desprovida de pré conceitos é uma tarefa árdua e muito bonita. O ato de você agradecer a amiga pela contribuição em sua vida pessoal mostra o quanto o filósofo é acima de tudo um homem maduro. Abraços!!!!!

    ResponderExcluir
  2. obrigado pelo comentário Trololó. é bom saber que gostou do texto. Obrigado também pelo elogio.

    ResponderExcluir