sexta-feira, 15 de maio de 2009

26 anos dançando

Depois de amanhã é meu aniversário. Na minha opinião é a segunda melhor festa do ano. Só perde para o Natal.

Adoro meu aniversário. Ao contrário de muitos, vejo nesse dia um momento pra pensar na vida, refletir sobre novos alvos, aproveitar, sair, comer coisas legais... sei lá... é realmente um dia de festa pra mim.

São agora 26 anos de existencia nesse mundo. Me sinto feliz com o que já vivi. Digo vivi e não "alcancei" porque acho que essa idéia de "alcançar algo", já pressupõe um estilo de vida pautado por adquirir coisas. (ideologia essa marcante hoje em nosso mundo.). Não penso que tenha que alcançar algo. Tenho que viver... Se alcançar, tudo bem. Se não? Tudo bem também.

Acho que pautar a vida por dinheiro, bens, viagens, não faz sentido. Acredito que a vida seja um valor em si mesmo. Usá-la em funçao de algo, é usá-la como meio... Penso que isso não faz sentido.

Nesse mundo de hoje, o pensamento é outro. Tenho que alcançar o sucesso, o dinheiro, tenho que viajar, tenho que fazer isso ou aquilo... Sempre um "tenho que" nos assombrando...

Mas então quer dizer que não quero fazer nada? Não é isso. Quero viver. Viver tendo como valor a vida, e não o que ela pode me dar. Viver não visando sempre um futuro. Mas viver em conformidade com a vida. Como já dizia Nietzsche. A vida dança descalça, enquanto que a morte anda em marcha. Sabemos que a marcha é aquela coisa disciplinada. Visando obedecer a ordem do superior, visando alcançar algo no fim.. Geralmente a vitória. Semear no presente para colher no futuro... Justificação pelas obras.

Engraçado que, quem dita o que seja o "vitorioso" é sempre aquele que está no poder. Como nosso mundo é dominado pelo "dinheiro", o "vitorioso" é aquele que tem dinheiro, que pode viajar, que pode fazer seus cursos etc... Pena que várias vezes, esses "vitoriosos" perdem o mais importante que é a vida.

Jesus disse algo sobre dois senhores. Deus ou dinheiro. Deus é vida. em nome do outro senhor, negamos o primeiro. Como Jesus mesmo disse. É impossível servir aos dois. Ou se busca o dinheiro com toda a sua alma, força e entendimento, ou a vida.. (Eu sou o caminho, a verdade e a vida)... A maioria procura o dinheiro. Pena perderem a vida enquanto isso.

A dança já é outra coisa. Dançar significa ser livre. Quando se dança, se faz despreocupadamente. Dançar descalço é ato de fé. é viver de acordo com a melodia. Justificação pela graça. É não tentar colocar a música em função da dança, mas a dança em função da vida. Para dançar é preciso estar solto. É preciso ouvir a música. ( A fé vem pelo ouvir)... No meu caso, a música vem de um Reino que está aqui, mas ainda não... A música vem de um futuro que está sendo construído. Quero dançar mais vários anos. Quero ouvir essa melodia, deixa-la me embalar em seu ritimo. Quero dançar com pés descalços.

Não. não quero os pratos de lentilhas oferecidos por esse sistema, que me dão prazeres passageiros, mas sempre no frenesi de estar em busca de um outro algo. Quero ser embalado pela melodia suave do reino. Quero dançar descalço. Vida como fruição. Prazeres reais.

Doce vida essa. ah ! Esperança de poder viver vários anos dançando...

Penso estar dançando há 26 anos agora. Quero continuar essa dança. Se não for assim, posso dizer igual o Eclesiastes. Inutilidade de inutilidade. Tudo é inutilidade (Ec. 1.1)...

As vacas e o Reino







Nietzsche disse uma vez no livro “Assim falou Zaratustra”

“Se não tornarmos para trás e não fizermos como as vacas, não poderemos entrar no reino dos céus. Que há uma coisa que deveríamos aprender delas: é ruminar (...) Estas vacas de certo foram muito mais longe: inventaram o ruminar e cair no contrário. Assim se livram de todos os pensamentos pesados que incham as entranhas”. (p 203, 205)

Penso que hoje com a moda “fast food” que alcançou nossas igrejas, a tarefa de ruminar não faz sentido.

Dentro da dinâmica do “fast food evangélico”, a palavra (comida), deve ser preparada da forma mais rápida possível, de forma a atender a fome imediata do ouvinte (cliente), que também tem pressa porque tem que obter a “resposta divina”, o quanto antes para suas necessidades.

Estabelece-se assim uma relação muito tranqüila entre quem serve a comida e quem a consome. O pastor é aquele que deverá trazer a comida de forma mais rápida possível, (e quando digo rápido aqui, não me refiro a minutos e segundos, coisa que a maioria dos pastores não têm noção) e o cliente é aquele que comerá essa comida e aliviará sua fome imediata.

Vários programas de televisão já nos mostraram o perigo das comidas “fast food”, alguns chegaram até a fazer experimentos com um cara alimentando só de hambúrguer durante um tempo pra ver no que dava. Sabemos que as refeições “fast food” acabam por prejudicar nosso estomago, dentre outras coisas.

Mas e as vacas? Como disse Nietzsche, é preciso aprender com as vacas. Elas ruminam, e ao fazerem isso, elas fazem com que o alimento “caia ao contrário”, e com isso se livram dos pensamentos pesados que incham as entranhas.

Para quem não conhece Nietzsche, ele foi um filósofo do século XIX que amava a vida. Sua ênfase em uma vida que fizesse sentido permeia toda a sua obra. Ele era um homem de paixão infinita pela vida. Daí sua crítica à religião do seu tempo, que em nome de uma “nova vida celeste”, negava a vida terrena. Isso para ele não fazia sentido. Seus escritos revelam a sua paixão pelo bem mais precioso do homem, que não pode ser negado, isto é, a vida.

Ruminar para livrar dos pensamentos que incham as entranhas é demonstrar um amor pela vida, é um exercício que pouquíssimas pessoas fazem hoje dentro das igrejas evangélicas. A maioria age como se fossem comer em um “fast food”, e com isso ingerem todo tipo de coisa que é falada, sem ruminar, e seus pensamentos ficam pesados, suas consciências ficam entupidas de conceitos que em nada tem a ver com a proposta do reino.

Mas venhamos e convenhamos que o fast food é muito mais rápido e fácil. Ruminar dá trabalho. Ruminar nos torna seletivos. Não comeremos qualquer comida que nos for ofertada, selecionaremos melhor aquilo que entrará em nossos corações. Afinal é isso que sairá da nossa boca, como disse Jesus certa vez.

Se quisermos entrar no reino dos céus, precisamos aprender a ruminar. Aprender com as vacas. Pensar sobre o que ouvimos, fazer a palavra cair ao contrário, mastigar de novo, digerir de novo. Talvez se usarmos um jargão teológico fique mais compreensível. “Devemos ser como os crentes de Beréia, ”. Não aceitar qualquer coisa, ruminar, pensar sobre o que ouvimos.

Mas ser como o povo de Beréia, isso todo mundo fala, mas confesso que é algo muito raro ver alguém praticando isso. Mas por que é assim?

Porque geralmente isso não interessa para a maioria das pessoas. O que se quer é o “fast food”, é o ativismo, é ir à igreja aos sábados e domingos, talvez fazer alguma coisa em algum departamento, e de lá voltar para a casa com o sentimento de missão cumprida.

E aqueles que ruminam? Ah, esses são mal vistos, esses são os “críticos”, os que “só vêem defeito”, os que estão “nadando contra”, eles serão vistos assim por todos aqueles que apreciam o “fast food”.

Algo impressionante nas vacas é a constancia com que elas se portam. Cada alimentação é lenta, digerida calmamente, para depois procurar um outro lugar onde poderá se alimentar mais. O ruminar das vacas deveria ser uma prática nossa dentro de nossas igrejas, mas como já foi dito, o ativismo é a prática comum de nossas igrejas. Quanto mais rápido a comida sair, melhor; mesmo sendo sempre a mesma coisa sem sentido. O importante é ela ser de fácil digestão, e pouco trabalho.

Muito diferente é o mundo das vacas. Lá o tempo corre mais devagar, lá é possível pensar sobre o que foi dito, ruminar, e apenas reter o que é bom. Talvez seja isso que Jesus tentou fazer ao explicar a lei aos fariseus. Jesus tinha ruminado a lei, e retirado dela o essencial, i.e,

“Amarás o Senhor teu Deus, de toda a tua alma, de todo a tua força e de todo o teu entendimento, e ao próximo como a ti mesmo.”

Ao ruminar, livramos dos pensamentos pesados que incham as entranhas, conseguimos reter o que é bom, reter a essência daquilo que Jesus nos pede, Penso que, uma vez compreendido o pedido, poderemos agir de uma forma melhor para cumprir o Seu propósito para nós. Talvez seja isso que Nietzsche quis dizer com “Se não tornarmos para trás e não fizermos como as vacas, não poderemos entrar no reino dos céus.”

Fabiano Veliq 11/05/2009

idéias para um culto





Idéias para um culto

Ontem estava falando com o pato, (Um amigo meu) durante um culto na igreja onde vamos de vez em quando.

- Ah como seria bom, se ao invés dessas músicas que cantamos, com tantas palavras, com tantas heresias, sem sentido a grande maioria delas, se ao invés disso, durante o louvor colocássemos um cd de Bach, ou Verdi, Vivaldi, ficássemos quietos, ouvíssemos a suave melodia e adoraríamos em silencio.

Sem falatórios inúteis, sem canções que não dizem nada. Ouviríamos a melodia, Deus falaria conosco e responderíamos a Ele da forma mais sincera que podemos fazer: Com nosso silêncio. Deixaríamos os gemidos inexprimíveis do Espírito falar por nós.

O Rubem Alves já falava que o silêncio nos incomoda. Falamos sempre palavras contra palavras pra não ficarmos em silencio. No silencio encontramos conosco apenas, e isso às vezes nos incomoda. Preferimos falar, preferimos a atividade, as várias melodias, as várias palavras eloqüentes, as orações intermináveis, preferimos isso a encontrarmos conosco no silencio, ou a encontrarmos Deus no silencio. Não digo algo novo, Agostinho já o disse antes de mim. Está lá nas confissões no livro X. (VII , 23) “Os homens vão admirar os cumes das montanhas, as ondas do mar, as largas correntes dos rios, o oceano, o movimento dos astros, e deixam de lado a si mesmos...”

O ativismo é mais fácil, do que ficar em silencio. O redemoinho é mais chamativo que a brisa suave onde Deus se encontra.

Mesmo em Elias, Deus se revelando no meio da brisa suave que traz consigo o silencio, ainda o procuramos em meio aos redemoinhos das palavras.

- Ele me retrucou : É cara, e depois disso, poderia ir alguém lá na frente, lê uma poesia que nos falasse do amor de um pelo outro, do amor do amado pela amada, do pai para o filho, da mãe para com a filha, enfim, algo que nos trouxesse de volta aquilo que entendemos ser a essência do que Cristo nos falou; O amor. Novamente ouviríamos a voz de Deus que falaria conosco por meio de outra brisa suave que traria refrigério para nossas almas.

Depois disso, o leitor da poesia simplesmente falaria :

- Vão em paz e que Deus os abençoe !!!!!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

eu quero uma igreja fria



Eu quero uma igreja fria

Apocalipse 3:15 nos diz: Conheço as suas obras, sei que não és nem frio nem quente. Melhor seria que fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.

Algo interessante neste texto é que Deus não critica a igreja fria. Ele critica uma igreja morna. A igreja morna é aquela que não é fria nem quente, é aquela que não possui uma identidade, e como tal não sabe definir seu “estado”.
Se pararmos para analisar os estados da matéria, veremos que no estado sólido (o que corresponderia ao frio), as moléculas estão todas unidas e aproximadas umas das outras sendo portanto difícil de se quebrar essas ligações.
No estado gasoso (que corresponderia ao quente), o que acontece com as moléculas é completamente o oposto. Elas estão muito agitadas, indo de um lado para o outro, aumentando o seu volume muito rápido, no entanto as moléculas mal se encontram e muito menos se ligam entre si.
Como sabemos, o gás se propaga muito rápido. Isso devido ao fato das moléculas estarem super aquecidas portanto, mais afastadas.
Não sei o porquê hoje se faz o culto à igreja “quente”. Há a suposição de que é lá que as coisas acontecem, que é lá onde Deus está agindo, que é lá onde o mover ocorre, enquanto que na igreja “fria” é onde o povo literalmente se esfriou e portanto, Deus não age mais ali. No entanto vemos que as coisas não são assim. Nas palavras do Apocalipse a crítica é à igreja morna, e não à igreja fria. A crítica é a uma igreja que não reconhece a sua situação, que se julga rica mas é pobre e que precisa dos conselhos de Deus para que volte a andar no caminho.
Assim como no estado sólido as moléculas estão próximas e conectadas umas as outras, assim também é o projeto proposto por Deus nas palavras da oração sacerdotal de Jesus descrita em João 17 “Para que todos sejam um”. Para que haja um estado sólido é preciso que as moléculas estejam unidas umas as outras, ao passo que no estado gasoso, para que ele se mantenha, é preciso completamente o oposto. É preciso que as moléculas se mantenham o mais afastado possível. Só assim elas poderão se manter no estado quente.
Particularmente, acredito que Deus preferiria uma igreja fria a uma igreja quente, pois na igreja fria há essa capacidade por parte das moléculas de se manterem unidas e isso é o que mais caracteriza esse estado. Uma vez que essa união se desfaz, o seu estado sólido desaparece. No caso do estado gasoso, quando essas moléculas começarem a se unir, elas perderão sua identidade de gás e se tornarão cada vez mais parecidas com o sólido.
Penso que na igreja há a necessidade de união ao invés da necessidade de expansão. Se atentarmos na oração de Jesus, o que Ele pede é que eles sejam um; isto é, que eles sejam como uma matéria onde suas moléculas estão unidas.
O texto de Apocalipse é um clamor pela busca de identidade. Nas palavras do próprio texto “ Melhor seria que você fosse frio ou quente”. O clamor, como foi dito, é pela identidade - se será frio ou quente - EU QUERO UMA IGREJA FRIA.