sábado, 31 de janeiro de 2009

Sobre fé e ontologia.








Ontem conversando com a Priscila entramos no assunto se existem demonios, ou possessões demoníacas ou coisas do tipo projeção astral, poder latente da alma (Watchman nee), e coisas desse gênero. Foi uma conversa bem proveitosa e bem interessante onde colocamos nossas posições a respeito.
Minha posição a respeito é que no final tudo é uma questão de ontologia. É sempre uma escolha que eu faço do que existe e do que não existe, do que tomo como determinante na minha vida, e do que estou disposto a aceitar.
Dependendo do que aceito como existente, sou capaz de criar todo um emaranhado de situações onde aquelas existencias de fato existem e interferem em minha vida.
Ilustrei o fato ontem da seguinte forma: É como se estivéssemos em um grande galpão onde estivessem ocorrendo diversas peças de teatro ao mesmo tempo, e em cada uma dessas peças, havia um cenário específico, uma história específica, uma relação de causa-efeito específica. Quem participava de uma peça, podia ver a peça que o outro estava fazendo, e podia entrar para o cenário do outro e interagir ali.
Pensemos que cada peça corresponde a uma religião específica com uma ontologia específica. Ao aderir à peça X, o que faço é dizer para os outros participantes, das outras peças, que eu prefiro o cenário X ao cenário Y, porque o cenário X faz mais sentido pra mim do que os outros cenários. E isso por motivos diversos, quer porque acho o cenário X mais bonito, ou acho o cenário Y meio sem sentido. O que me motiva mudar de cenário não faz tanta importancia assim.
Eu simplesmente mudo de cenário. Essa mudança de cenário implica que eu aceite toda a estrutura que aquele novo cenário me dá. Eu aceito que aquilo que o cenário chama de "existente", realmente é o que existe, e que a objetividade se encontra ali.
Agora, e os outros cenários ? e as outras pessoas que escolheram as outras peças, com os outros cenários do galpão? Eu poderia afirmar que elas estão "erradas" objetivamente falando? Eu poderia dizer que pelo fato delas escolherem outro tipo de ontologia isso as condena a uma perdição ou coisa do tipo? Ao aceitar determinada ontologia, aceito que esses objetos que fazem parte do cenário de fato existem e interferem na minha vida.
Nós escolhemos a ontologia cristã. Escolhemos viver no cenário onde "Deus", "diabo"," Jesus", "anjos", "demônios", "guerra espiritual" e demais termos e idéias fazem sentido e de fato existem e interferem de forma crucial em nossas vidas.
Agora, há aqueles que escolheram viver em um outro cenário onde esses termos, e esses seres não fazem sentido, ou são vistos de outra forma.
Dentro de um cenário hindu, por exemplo, toda esse emaranhado de termos não existem, e se existirem, adquirem outra configuração que se assemelha muito pouco ao que estamos acostumados. Da mesma forma um cenário islâmico, ou budista.
Onde está portanto a objetividade da minha crença em determinada ontologia para além de mim mesmo ou para além do meu próprio cenário? Dentro desse quadro sugerido, eu posso afirmar de que a ontologia do meu cenário, é preferível em relação a ontologia do outro cenário? Como eu posso ter garantia de que as coisas que dou por existente de fato existem? Onde estaria a objetividade dessas diversas ontologias? Será que haveria um "diretor" de todo o galpão que está coordenando todas as peças e vendo todas como componentes da "peça maior" que está em sua mente?
Fiz toda essa ilustração para falar de fé. Acho que esse quadro exposto acima dá à fé um significado muito maior. Como diria o autor de Hebreus "Fé é a certeza de fatos que não se vêem".
Por que falo de fé? Porque é a fé que dá objetividade a ontologia escolhida. Eu decido, mesmo sem ter certeza, de que tal cenário é de fato a realidade, é de fato o existente, é de fato objetivo. A fé dá esse salto para além do subjetivo para entrar na objetividade.
Garantias? acredito que não existam para além da fé, e é isso que move cada indivíduo em cada cenário. A fé de que aquilo que ele está chamando de existente de fato existe.
Se de fato é assim, a pergunta que surge é do porque da evangelização, do porque do jihad, do porque tentar "convencer" o outro do meu cenário.
Ao falar de tentarmos convencer o outro, já estamos usando a ontologia do meu cenário que me diz que o outro deve ser alcançado, pois o do outro cenário está no erro.
Há de se buscar um embasamento para a evangelização para além das ontologias? Isso só faz sentido se acredito em um "diretor geral das peças" que me falou o que ele queria. Mas isso não seria uma outra questão de ontologia ?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


Ontem li uma noticia que achei extremamente interessante. Para quem não sabe, sou apaixonado com o espaço sideral. Gosto de saber sobre estrelas, planetas, meteoros, cometas, novas descobertas nesta área, mas o que acho a maior maravilha desse universo são os buracos negros. Uma estrela que implode e depois disso consegue sugar tudo que passa ao seu redor pra mim é fantástico.
A notícia que li ontem na folha de São Paulo não tratava de buracos negros. Ela tratava de uma descoberta feita pelo satélite Voyager 1.
O satélite conseguiu detectar que a chamada heliosfera não é completamente circular como os cientistas previam que fosse.
Para quem não sabe, no espaço existem ventos. Os ventos provocados pelo sol são chamados de ventos solares, e a área de atuação desses ventos é chamada de heliosfera. As outras estrelas de outras galáxias também produzem vento, e estes são chamados de vento estrelar para diferenciar do vento solar.
Acontece que o satélite Voyager 1 conseguiu verificar que a heliosfera seria um pouco mais achatada no sul. Ela teria a forma parecida com a de uma elipse.
Essa descoberta me fez pensar enquanto tomava meu café da manhã com minha esposa.
Indaquei-me :
Será que um dia conheceremos o espaço da forma como conhecemos a Terra ? Se olharmos no “Google Earth” o espaço, o que veremos são pequenos traços incompletos das galáxias já conhecidas. O que mais vemos é vazio. Um imenso negro toma conta da tela do computador.
Fiquei pensando nisso e me veio a história da Torre de Babel descrita na bíblia. O objetivo da Torre era alcançar os céus. No entanto, nos relata a história, que Deus interveio naquele projeto confundindo a língua daqueles que estavam ali trabalhando.
Deus atacou os construtores no ponto decisivo da situação que era a questão da linguagem. Enquanto um entendesse o outro o projeto de construção da torre poderia andar normalmente, ao passo que, assim que as línguas foram confundidas a obra cessou. O desejo do homem de alcançar o céu foi desfeito a partir numa confusão da linguagem.
O que vemos com a ciência nos dias de hoje não é diferente da situação da Torre de Babel. Os cientistas hoje também têm o desejo de alcançar os céus, desvendar seus mistérios, entender como funcionam os sistemas solares, as galáxias, a Terra. Eles falam todos a mesma língua também, a saber, a matemática.
Fiquei pensando: Será que Deus desceria novamente e confundiria a língua dos cientistas ?
Não tenho resposta pra isso. Mas a descoberta da Voyager me fez pensar...

Vinde, vamos refletir juntos - Is. 1:18

Deus quer que pensemos. Deus quer refletir conosco, e o convite incessante de Deus é esse. “Vamos refletir juntos”. Deus não quer uma igreja que não pense, Deus não quer seguidores que o sigam irrefletidamente. Deus quer que reflitamos em nossas práticas, e ele está pronto a refletir conosco, a ser questionado. Geralmente quem não estão prontos para serem questionados são os “agentes de Deus” que se julgam donos da verdade. Eles não querem ser questionados, afinal, quem possui a verdade não precisa se explicar. Afinal, “nada se pode contra a verdade senão pela verdade” já dizia Paulo. Mas Deus mesmo possuindo todo conhecimento, toda a sabedoria nos convida a refletir, e melhor ainda, quer refletir conosco. Quer que pensemos nossas práticas, quer que ajamos de forma a obedecê-lo depois de uma reflexão. Afinal, a fé sem reflexão se torna fanatismo. E até onde eu sei, Deus não requer fanatismos.Ah se esse convite fosse aceito em nossas igrejas.... Ah se Deus olhasse para nós e visse pessoas dispostas a dialogar, dispostas a discutir as opiniões, dispostas a abrir mão de suas convicções várias vezes infundadas e se colocassem em posição de diálogo.Infelizmente estamos longe disso, infelizmente essa realidade se tornou quase utópica. (Fabiano Veliq)